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Para todos os problemas sempre há uma solução, como lidar com problemas do cotidiano.

Jair Neto

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Este artigo apresentará uma resenha sobre o livro “O segredo judaico de resolução de problemas: Iídiche kop” do rabino Nilton Bonder. Descrevendo os principais ensinamentos do livro.

Em seu livro, Bonder mostra o mindset de um povo que na história já passou por várias tribulações, mas em todas elas, conseguiram vencer. Saindo dessas tribulações mais fortes e prósperos. Esse mindset judaico que tem como objetivo criar em nós o processo voluntário de questionar o impossível é chamado de Yiddishe Kop.

A título de curiosidade, os judeus ganharam 22% de todos os prêmios Nobel, embora apenas 0,2% da população mundial seja judia. Ele mostra muitos exemplos ao longo do livro para exemplificar os conceitos judaicos, tornando mais fácil para o leitor assimilar suas ideias.

Nunca desista!

Para cada problema potencialmente impossível que você tenha em sua vida, você não deve desistir. Porque a impossibilidade é apenas uma condição momentânea e nenhum outro gesto é mais instigador da criatividade e da intuição do que nunca desistir. O simples fato de permanecer jogando abre seus olhos para múltiplos caminhos que não existiriam se você jogasse a toalha.

Para exemplificar este conceito, Bonder descreve uma história interessante sobre um homem que foi acusado injustamente por um rei. Ficando desesperado, pois sabia que o rei o mataria. Então, este homem pediu para falar com um rabino que lhe disse: “Nunca acredite que não há solução. Não desista, e lhe será mostrado um caminho inimaginável.”

Assim, no dia do julgamento, o rei fingindo que o acusado tinha alguma chance lhe falou que escreveria em um papel a palavra inocente e no outro a palavra culpado. Teoricamente, o acusado agora tinha 50% de chance de ser livre, mas começou a suar frio porque sabia que o rei estava brincando com ele e que tinha escrito culpado nos dois pedaços de papel.

Porém, nessa hora ele se lembrou das palavras do rabino e começou a meditar. Depois de algum tempo seus olhos brilharam e para surpresa de todos no julgamento, ele comeu um dos papéis. Então, surpreso com a situação, o rei perguntou-lhe: “O que você fez? Como saberemos qual é a sua sentença?” e ele o respondeu: “Muito fácil, só olhar para o pedaço de papel que sobrou, o oposto a ele será a minha sentença”.

O processo usado pelo acusado também é conhecido como recontextualização. Quando estamos diante de um problema que parece não ter saída, devemos tentar ver essa dificuldade através de outras perspectivas.

O aparente do aparente

A realidade é como uma cebola, cheia de camadas e para ter um entendimento completo de todos os aspectos do mundo, devemos desfazer essas camadas uma por uma. Fazendo isso, teremos uma percepção mais ampla da realidade.

O aparente do aparente é o que está à vista de todos. É como a camada mais externa da cebola, aquela mais fácil de perceber com os nossos 5 sentidos. Entretanto, precisamos ter cuidado, pois nossos 5 sentidos ao mesmo tempo que são um recurso também são uma limitação e devemos reconhecer isso para que não cometamos erros. A vida nos exige um aprimoramento de nossa percepção, sempre demandando que nós aumentemos nossas leituras para que possamos ir além do mundo literal, captando o que está abaixo da superfície.

As redes sociais são um exemplo da camada mais externa de uma cebola. Nelas as pessoas só compartilham os melhores momentos de suas vidas e, como muitas pessoas não entendem o conceito da cebola. Não conseguem enxergar que a realidade mostrada nas redes sociais não é a realidade completa, mas apenas uma camada dela. Por não perceberem isso, muitos comparam toda a sua vida com as vidas apresentadas nas redes sociais e acabam ficando deprimidas por causa disso.

O que é uma resposta?

Uma das características do estereótipo dos judeus é sempre tentar responder uma pergunta com outra pergunta. Eles fazem isso porque uma resposta simples pode levar o questionador a um caminho de escuridão, fazendo com que ele veja apenas o aparente do aparente. Quando você faz mais e mais perguntas, cada uma delas aprofunda o seu conhecimento e faz com que você melhore o seu entendimento.

Este tópico do livro pode ser facilmente relacionado a técnica dos cinco porquês. Nesta técnica, queremos encontrar a verdadeira causa raiz de um problema, repetindo a pergunta “Por que” para cada resposta dada. Isso aumenta nossas chances de eliminar o problema de uma vez por todas e não ficar apenas enxugando gelo, atuando em suas causas e não em seus efeitos colaterais.

Exemplo da técnica dos cinco porquês no domínio da manufatura.

Problema: A esteira transportadora da principal linha de produção parou.

1- Por que a esteira transportadora parou?

a. A polia principal responsável por girar a correia não está funcionando.

2- Por que a polia principal não está funcionando?

a. Porque não está recebendo energia suficiente do motor.

3- Por que não está recebendo energia suficiente do motor?

a. Porque o motor parou de funcionar.

4- Por que o motor parou de funcionar?

a. Os enrolamentos do motor queimaram.

5- Por que os enrolamentos do motor queimaram?

a. O motor estava sobrecarregado.

6- Por que o motor estava sobrecarregado?

a. Embora houvesse especificações sobre a máxima frequência de carga permitida a cada hora, não havia instruções sobre o peso máximo de carga permitido.

Causa raiz: então, podemos ver que 6 porquês foram necessários para finalmente decifrar que o peso de carga no motor era maior que a sua capacidade e agora precisamos substituir o motor por um mais potente ou restringir o peso máximo de carga. Sem este exercício, iríamos trocar a polia principal e continuaríamos com o problema raiz.

O sábio orgulhoso

Muitos sábios falham em dois aspectos:

  • Eles tentam encontrar as respostas mais complexas às perguntas que lhe são feitas.
  • Acham que já sabem de tudo.

De acordo com o princípio da navalha de Ockham, que afirma que entre duas teorias ou soluções que resolvem igualmente os mesmos fatos, deve-se optar pela mais simples. Logo, o sábio orgulhoso sempre dará a resposta errada porque ele dará a mais complicada.

Quando alguém pensa que já é sábio e não precisa aprender mais nada, esse é o momento em que começará a falhar. Precisamos aprender a ser ignorantes, sempre buscando novos conhecimentos.

Oculto do aparente

Reframing/Recontextualizando

Este é um método interessante. Neste método, sempre que ocorre uma situação, devemos nos perguntar “Com que isso se parece?” para que possamos separar o texto do contexto, enxergando a situação com outros olhos. Exemplo: em casos de perda, é comum na tradição judaica usar o método de ressignificação. Quando pequenos problemas acontecem, como quando um copo ou prato quebram, os judeus imediatamente dizem “mazal tov” — “que sorte!”. Essa ressignificação é para expressar a alegria de que foi apenas algo insignificante que quebrou. Agora você sabe que estava distraído e pode garantir que um acidente maior não aconteça. Essa técnica nos ajuda a evitar um problema maior antes que ele aconteça, mudando nossa mentalidade sempre que um problema menor acontece.

Foque no longo prazo

O trapezista ao caminhar na corda bamba para se equilibrar, mantém os olhos na linha de chegada e não na corda ou no chão. Porque, ele perderá o equilíbrio se olhar para corda ou para o chão.

Na vida é do mesmo jeito, devemos olhar para os objetivos de longo prazo para nos mantermos focados, evitando dar grande importância àqueles objetivos de curto prazo que não foram alcançados. É como diz Bill Gates: “Nós sempre superestimamos a mudança que ocorrerá nos próximos dois anos e subestimamos a mudança que ocorrerá nos próximos dez”.

Ao mantermos o nosso foco no longo prazo, ignoramos as pequenas falhas que iremos ter ao longo do caminho, melhorando nossas chances de realizar aqueles objetivos que realmente importam.

“Quando você tiver muito o que fazer, vá dormir”

Este é um famoso ditado iídiche. Às vezes, quando temos muitas atividades para fazer ou as tarefas são muito difíceis, o melhor movimento é parar o que estamos fazendo e dormir ou descansar. Limpando nossa mente, aliviando nossas ansiedades e fazendo-nos ver os problemas com outros olhos.

Existem alguns exemplos famosos de invenções que ocorreram quando os inventores estavam no ócio como Arquimedes que estava no banho quando teorizou a lei da hidrostática e Newton que estava sentado sob uma macieira quando teorizou sobre a lei da gravidade. Algumas pesquisas confirmam que os momentos de inatividade são benéficos.

“É muito importante. Há pesquisas que mostram que quando deixamos a mente vagar e então retornamos as nossas tarefas, tendemos a ter ideias mais criativas” Scott Barry Kaufman, PhD

O medo de cometer um erro

Os erros são uma parte fundamental do processo de conhecimento. Aqueles que sofrem com a falta de erros não podem se beneficiar do conhecimento e da percepção que vêm deles.

Conclusão

Em resumo, os principais ensinamentos do livro “O segredo judaico de resolução de problemas: Iídiche kop” são:

  • Para todos os problemas sempre existe uma solução, precisamos apenas destrinchar suas camadas e meditar.
  • Que devemos ser humildes, nunca deixando de aprender.
  • Que não devemos aceitar a primeira resposta para uma pergunta.
  • Devemos focar no longo prazo, sem medo de cometer erros.

Este livro ajuda a abrir os olhos e nos mostra algumas maneiras de resolver problemas que podem ajudar muito em vários aspectos das nossas vidas. Portanto, recomendo a leitura deste livro, pois há muitos outros ensinamentos que podemos tirar dele.

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Jair Neto

ML engineer / Analytics engineer | UCI & UFCG Alumni